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50 Anos do Seminário Seráfico São Francisco de Assis em Barra do Corda
"Louvai e bendizei ao meu Senhor!, rendei-lhe graças e servi-O com grande humildade..." Esta frase do Cantico do Irmão Sol resume todo o sentimento de gratidão a Deus, pois, os Capuchinhos da Província do Maranhão, Pará e Amapá celebram o cinquentenário da abertura do "Seminário Seráfico São Francisco de Assis" em Barra do Corda. A comemoração deste evento é toda revestida de um profundo significado histórico, pois é o marco inicial da retomada da Plantatio Ordinis no Maranhão. Nesta Casa repleta de história, já se passaram muitas gerações de frades da nossa Província, a maioria ainda vivente e alguns já na casa do Pai. Mesmo passando por curtos períodos de tempo sem receber aspirantes e postulantes, esta importante casa da Província não perdeu o seu vigor de acolher as vocações capuchinhas do Maranhão, Pará e Amapá. Por isso, a fraternidade de Santa Cruz em Barra do Corda orgulha-se de ser força mantenedora deste empreendimento santo que acolhe e educa os primeiros frutos da formação inicial.
No dia 15 de maio, na ocasião em que se celebrava o Capítulo da Fraternidade Regional de Barra do Corda, aconteceu a celebração em ação de graças pelos 50 anos da Casa de Barra do Corda. A Santa Missa foi presidida pelo Ministro Provincial Frei José Nilton Leandro e concelebrada pelos membros do Governo Provincial, frei João Franco Frambi (primeiro diretor) e frei Romildo Carneiro (atual diretor), além de numerosos confrades sacerdotes, pós-noviços, postulantes e vocacionados. As Irmãs Capuchinhas de Madre Rubatto e diversos fiéis da paróquia Santa Cruz estiveram presentes, especialmente os amigos das vocações, que com a sua presença viva e generosa fazem o momento ser mais festivo e alegre. Depois da Santa Missa, todos se congratularam no Convento, onde foi servido um saboroso coquetel. Na ocasião, o Ministro Provincial abençoou o marco dos 50 anos na entrada do Convento e descerrou a placa comemorativa. Parabéns, Seminário Seráfico! 50 anos de muito trabalho em prol das vocações. E que esta bela história continue, pela intercessão de N. Sra do Carmo e São Francisco. Paz e Bem!
Publicamos em anexo a Homilia que foi proferida pelo Ministro Provincial:
HOMILIA NA OCASIÃO DOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DO SEMINÁRIO SERÁFICO SÃO FRANCISCO DE ASSIS Barra do Corda-MA, 15 de maio de 2025.
Queridos irmãos e irmãs, Ainda exultantes com o anúncio da Ressurreição de Jesus e por isso vivenciando este tempo de páscoa, queremos elevar ao Senhor por todas as maravilhas que ele nos concede, especialmente por poder nos conceder a graça de estarmos juntos, como fraternidade provincial, nesta cidade de Barra do Corda e ao mesmo tempo recordar com alegria e gratidão todo o bem que Ele faz a todos nós.
De fato, estamos celebrando a ocasião festiva dos cinquenta anos da inauguração do “Seminário Seráfico São Francisco de Assis”, que é para nós o marco da reimplantação da nossa Ordem no Maranhão. E não poderia haver momento mais propício do que aqui, junto a este altar, onde exatamente cinquenta anos atrás – frades, seminaristas, povo de Deus – começavam esta belíssima caminhada.
Não quereremos tornar esta homilia uma recordação nostálgica de eventos e pessoas, até porque não é fácil sintetizar cinquenta anos de história, pois esta a que estamos falando envolve pessoas, projetos, lutas, fracassos, vitórias e derrotas. Porém, gosto sempre de repetir a frase que diz: “um povo que não faz memória de sua história e de sua cultura está fadado a desaparecer”. Neste sentido podemos afirmar que quando nós não fazemos memória e não registramos a história das pessoas que marcaram as nossas vidas e nos deixaram muitos belos testemunhos, corremos o risco de perder a nossa própria identidade.
Por isso queremos evocar nesta Eucaristia figuras maravilhosas que contribuíram (cada um a seu modo) para que nós estivéssemos aqui – quiçá por eles e em nome deles – continuando esta caminhada. Antes de tudo devo lembrar, que nós capuchinhos estamos presentes nesta cidade de Barra do Corda desde 1895. E neste campo santo, regado por lágrimas, sangue e suor de tantos missionários, foi fecundada a semente da evangelização, e se tornou uma árvore frondosa, cujos frutos até hoje subsistem. Pensemos em tantas obras de evangelização e promoção humana que estão ainda estão presentes aqui!... Junto ao trabalho missionário, os capuchinhos italianos da Lombardia também começaram a trabalhar pelas vocações, isto é, quiseram incorporar nas suas fileiras homens nascidos nesta terra de missão. E assim, logo no começo da atividade missionária, começam a aparecer os primeiros frutos deste trabalho, dentre os quais podemos destacar os capuchinhos maranhenses Frei Lourenço de Alcântara e Frei Fidélis de São Luís, este último que se encontra sepultado nesta igreja, junto aos nossos mártires de Alto Alegre. Durante cerca de 70 anos, os capuchinhos lombardos investiram em várias inciativas para amadurecer e enriquecer o processo formativo dos capuchinhos brasileiros (maranhenses, paraenses, cearenses e piauienses). Chegaram a mandar alguns para a Itália e depois construíram grandes Conventos no Ceará e no Piauí para servirem de Casas de formação. Este investimento não tardou a receber seus frutos: nos anos 60, o número de frades brasileiros já superava o de italianos, e por isso o Governo Geral de nossa Ordem decidiu por criar duas Custódias, uma no Maranhão e Pará e outra no Ceará e Piauí. A primeira composta pelos missionários, e a segunda constituída pelos frades nativos. Alguns poucos anos se passaram, e agora a então Vice-Província do Maranhão e Pará teria que levar a peito a desafiadora tarefa da Re-implantação da Ordem nesta parte do Brasil. No Capítulo Vice-provincial de 1974, o tema da Implantação da Ordem ocupou lugar de destaque na pauta de discussões. A eleição de frei Martírio Bertolini, como Vice-provincial, significava uma clara opção pelas vocações nativas e já no primeiro triênio do seu governo, foi iniciada a obra das vocações para a Ordem.
Como primeira expressão deste trabalho vocacional, surgiram os “Núcleos vocacionais” em Alto Alegre, Tuntum, Presidente Dutra, Primavera... que tinham como missão cultivar as vocações e prepará-las para o futuro Seminário Seráfico. O núcleo de Alto Alegre tem como fruto o Frei Domingos Marques, enquanto que o núcleo de Tuntum gerou Frei José Rodrigues, os dois aqui presentes nesta eucaristia. Vale lembrar que em São Luís era fundado na mesma época o “núcleo para vocações adultas” no Convento do Carmo, que formou Frei Luís Carlos Morais e Frei Benedito Roxo.
Começa a plantação das primeiras sementes nativas para o futuro da Ordem no Maranhão. Frei Martírio, depois refletir sobre qual cidade poderia ser o lugar propício para o “Seminário Seráfico”, pensou justamente em Barra do Corda. E foi assim, que na data de 25 de fevereiro de 1975, com uma Santa Missa nesta Igreja Matriz, presidida pelo próprio Frei Martírio Bertolini, o Seminário Seráfico começava o seu caminho com 15 adolescentes. Na ocasião também estavam Frei Jesualdo Lazzari e Frei Luís Mantovani. No mesmo dia, na presença do Bispo Prelado Dom Valentim Lazzari, foi inaugurado o Seminário Maior da Prelazia de Grajaú, onde hoje funciona o Centro Diocesano de Pastoral. O primeiro diretor, frei João Franco Frambi, aqui presente, foi encarregado para cuidar daquelas tenras vocações. Frei Rodrigo é o único remanescente dessa primitiva experiência. Nos anos seguintes entram Frei Domingos e o Padre Ribamar Nascimento, da Arquidiocese de São Luís.
Sobre aquele dia, convém lembrar o que o próprio Frei Martírio escreveu: “Essa primeira experiência, não obstante as dificuldades que certamente encontraremos, continuará com constância, empenho e confiança. De fato, um dos sinais mais seguros do fervor, da vitalidade e da fecundidade de uma entidade religiosa, é que tenha vocações, boas e numerosas. Cultivar as vocações para a Plantatio Ordinis é um desafio vital para a Vice-província! Como em uma família, em que os filhos constituem a sua plenitude e enriquecem-na com esperança, assim também acontece com as vocações para a Igreja e a Ordem. Portanto, promover e cultivar as vocações sacerdotais e religiosas, para a aedificatio Ecclesiae e para a Plantatio Ordinis, é para nós todos, uma tarefa prioritária. Os pósteros nos julgarão, o quanto e como fomos capazes de implantar a Igreja local e a Ordem”.
E assim aconteceu. Depois de Frei João Franco, vieram: Frei Luís Mantovani (in memoriam), Frei Ribamar Nascimento, Frei Deusivan Santos, Frei Paulo Sérgio Carneiro, Frei Antonio Martins, Frei Francesco Giuseppe Donesana (in memoriam), Frei Antonio Jaime, Frei Haroldo Brito, Frei Hernane Costa, Frei Fabiano Targino, Frei Pedro Canosa, Frei Francisco Cardoso, Frei Eraldo Nascimento e atualmente o Frei Romildo Carneiro. Todos trabalharam pelas vocações e consumiram suas energias na condução desta importante casa de formação.
Em cinquenta anos, a maior parte dos religiosos da nossa Província iniciou os seus anos de formação na Ordem neste “Seminário Seráfico” de São Francisco de Assis aqui em Barra do Corda. Não irei elencá-los – por que são muitos! – mas quero expressar que passaram por aqui muitos dos sacerdotes que concelebram esta Eucaristia, como também os Pós-noviços e Postulantes que estão nesta assembleia.
E recordam com o coração cheio de gratidão o momento em que tocaram a campa que se faz escutar em todo o convento, passaram por aquela grande porta e dali não olharam mais para trás. Recordam ainda os fortes momentos de oração, o intenso trabalho no quintal, o acurado estudo na biblioteca ou nas palestras... tudo isto acompanhado pela saudade da família, o companheirismo dos colegas, os carões do diretor, os estudos no Colégio Nossa Senhora de Fátima, as visitas ao Centro Emaús, a cadeia municipal e as comunidades do interior; os jogos de futebol no campo e o banho no rio nas tardes de domingo... cada espaço desta casa: capela, refeitório, dormitórios, biblioteca ou o quintal – guarda uma história, um fato, positivo ou negativo, mas que serviu para formar gerações de homens consagrados a Deus e que têm a Missão de continuar esta vida religiosa. No ano de 2003, sob o provincialato de Frei Dourival Miranda, esta casa foi ampliada para servir de estrutura também hospedagem dos frades que trabalham nas várias cidades desta região, fortalecendo assim os laços de fraternidade.
Meus queridos irmãos, permitam-me ainda dizer, que nesta homenagem quero incluir os nomes de quem fez esta história da Implantação da Ordem no Maranhão, Pará e Amapá acontecer, e que estão já na Casa do Pai: o promotor vocacional e diretor espiritual Frei Pedro Antônio, e os formadores: Dom Fr. Franco Cuter, Frei Benjamim Zanardini, Frei Aligi Quadri, Frei João de Deus Garagiola, Frei Ângelo Falomi e Frei Pascoal Rota. Restam entre nós ainda 3 amostras grátis: Frei João Franco Frambi, Frei Luís Giudici e Frei Inocêncio Pacchioni. O tempo está passando e a nossa Província começa a vislumbrar o não mais remoto horizonte da eternidade de Deus. A nossa palavra de GRATIDÃO estremece a nossa alma e recorda com lágrimas de alegria este poderoso desígnio de Deus.
Nossa gratidão também se estende a todos os irmãos benfeitores! Todos os dias, no final de cada refeição, costumamos rezar: “Dignai-vos, Senhor, recompensar com a vida eterna a todos os que fazem o bem por causa do vosso nome”. É isto que desejamos: a Vida eterna para todos os que nos ajudam. Podemos citar muitos nomes, mas quero lembrar três senhoras em particular: Dona Dolores (in memoriam), Dona Leônia e Dona Valda, que tanto na ajuda material como espiritual e quiçá formativa, deram a sua parcela de contribuição para o bom êxito desta Casa de formação.
Eu acredito, meus irmãos, que recordar toda esta história fará muito bem, sobretudo, às novas gerações de frades brasileiros. E é para vocês que agora me dirijo: nesta hora, toca a vocês, “frades nativos”, levar a diante essa cinquentenária história depositada em nossas mãos. Dela nós somos responsáveis, sem espírito de competição, concorrência, individualismo, luta pelo poder; elementos destruidores de vida fraterna, sobre cuja base se eleva qualquer projeto de vida franciscana. Capuchinhos brasileiros, sim, porém, também responsáveis pelo cultivo de valores peculiares da nossa Ordem. Nesse momento em que tanto falamos em “nossos valores”, o nosso “SER CAPUCHINHO” obriga-nos a retomar valores essenciais do nosso Carisma: austeridade, simplicidade, pobreza, espírito de abnegação, sacrifício, oração, vida fraterna. Todos, elementos vitais que iluminarão o nosso compromisso como formadores das futuras gerações de frades.
Sim, meus irmãos benditos: Este é o objetivo da formação, enquanto se aguarda a missão que será confiada para a glória de Deus e a salvação das almas. O mundo espera os santos: este acima de todos. Antes mesmo de sermos frades cultos, eloquentes, atualizados, queremos ser frades santos e santificadores: esta é a nossa primeira formação! Tudo deve brilhar na formação de vocês: tudo deve estar aberto e claro diante de vocês.
Caríssimos irmãos, vivamos a alegria do Ressuscitado, é desta alegria que pode nascer algo novo, da alegria, porque é a única coisa gratuita, a alegria de uma gratuidade que ninguém poderá nos tirar, porque o mundo novo será somente pela gratidão de um encontro decisivo. Que toda a Igreja, e cada um de nós nela, seja digno do mandato do Senhor. Desta forma, alcançaremos a Bem-Aventurança. Como penhor dos favores celestes invocados, e em confirmação da viva benevolência que o Senhor tem para conosco, recordamos em oração todos os superiores, formadores, alunos e ex-alunos presentes ou distantes, os benfeitores e amigos das vocações, vivos ou defuntos, e para esta cidade de Barra do Corda, sempre fiel e tão amada. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!