De “Vo-care” a “Mittere”: Peregrinos porque Chamados

De “Vo-care” a “Mittere”: Peregrinos porque Chamados

Desde agosto de 1981, a Igreja no Brasil instituiu o Mês Vocacional, com o objetivo de promover e refletir sobre as diversas vocações e como esse chamamento do Senhor impulsiona a sociedade. Trata-se de compreender de que modo as vocações podem contribuir para a construção de um mundo melhor, no qual o chamado de Deus se torna serviço e anúncio credível da força do Evangelho.

O ponto de partida é pensar e revitalizar a nossa humanidade em um mundo cada vez mais marcado pela desumanização. Esse foi um apelo constante do Papa Francisco, que nos recordava: “não percamos a nossa humanidade”. Um ser humano que perde a sua humanidade, perde, também, a capacidade de intervir no mundo com as ferramentas necessárias para torná-lo mais justo, belo e habitável. Por isso, a Igreja, em agosto, nos recorda do grande chamado de Deus à vida.

Pelo dom da vida, Deus nos chama à condição de cocriadores, para embelezar e conservar a obra criada, sem a qual a vida não floresce. O Gênesis nos recorda: “Frutificai, e multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem sobre a terra” (Gn 1,28). A hermenêutica bíblica nos ensina que esse “dominar” não significa explorar, mas cuidar. Nesse sentido, o homem se torna cocriador e guardião da vida.

No mês vocacional, Deus se revela como Pai, mediante a experiência da paternidade humana, tornando a ideia de Absoluto credível quando ensinamos às crianças: “Deus é Pai”. Essa sujeição de Deus à experiência humana é, também, um sinal de confiança no homem, pois revela que o ser humano é capaz de acolher a presença divina, é capaz de Deus.

Essa paternidade se expressa no sacerdócio ministerial, mas também no rosto materno da vida consagrada. Religiosos e religiosas, quando permanecem próximos aos mais vulneráveis, testemunham o cuidado e o afago de Deus diante daqueles que sofrem insegurança alimentar, exclusão social e dificuldade de acesso aos bens básicos. É um saber cuidar e um cuida bem de mim!

Assim, o mês de agosto é um tempo forte de espiritualidade vocacional que, na verdade, não termina quando o calendário muda de página. Ele chama pais, sacerdotes, religiosos, catequistas e leigos a viver um salto qualitativo em sua missão cristã: transformar o vo-care (o chamado) em mittere (o envio). Ou seja, despertar em cada cristão a consciência de que todo chamado de Deus é, sobretudo, uma missão, uma forma de participação ativa na vida da Igreja e no anúncio do Reino de Deus.

Que possamos, neste mês vocacional, assumir com esperança e coragem o lema: “Peregrinos porque chamados”.

Autor:
Frei José Jorge Rocha, OFMCap
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