40 Anos da Província Nossa Senhora da Piedade: A Presença dos Frades Capuchinhos Franceses no Maranhão

40 Anos da Província Nossa Senhora da Piedade: A Presença dos Frades Capuchinhos Franceses no Maranhão

A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos.” Marcel Proust.

Desde meados do século XVI, em 1574, os capuchinhos obtiveram licença papal para expandir a Ordem por outras regiões, para além das províncias italianas. Os franciscanos iniciaram, os capuchinhos seguiram e lançam a semente da mensagem evangélica nas quatro partes do mundo. Como dizia o Historiador cearense, João Capistrano de Abreu: “A história do Brasil, é uma história de frades”.

Com o descobrimento do Brasil gerou-se, nas várias Ordens Religiosas, um envolvimento de corpo e alma. Já a partir desse momento, os missionários, os frades de todas as Ordens e congregações se dedicaram com afinco, ao surgimento progressivo do Brasil. De modo particular os franciscanos capuchinhos se desfizeram de tudo para viver nas selvas, a favor dos indígenas; no sertão com os flagelados; nas cidades com conselheiros e orientadores.

As primeiras Missões Capuchinhas se deram entre os indígenas e foram de iniciativa pessoal, mais tarde apareceram missões estrangeiras organizadas. No Brasil, os primeiros Capuchinhos chegaram oficialmente em 1612. A rainha regente da França e Navarra, Maria de Médici, permitiu que os religiosos participassem da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos na expedição. Eram frades franceses, da Bretanha, que vieram com a missão de fundar uma colônia no Maranhão. Por questões internas e externas, tiveram que retornar para a França em 1615.

A esquadra francesa era constituída por três navios. Os comandantes dessa esquadra foram La Ravardiére e Razilly. A esquadra deixou o Porto de Cancale, na região francesa da Bretanha e chegou numa enseada maranhense em 26 de julho de 1612. Deram o nome de Sant'Ana à ilha de menor porte onde chegaram a aportar o navio, a pequena ilha recebeu esse nome em honra a Santa do dia. Ali ergue-se a primeira cruz latina feita de madeira em solo maranhense. Os tripulantes da embarcação ficaram nessa ilha, enquanto isso, Charles Des Vaux (que estudou o idioma) começou a conversar com os indígenas na ilha de Upaon-Açu. O segundo nome da ilha foi Ilha do Maranhão e posteriormente Ilha de São Luís. Em 12 de agosto do mesmo ano, foi celebrada a primeira missa solene no lugar escolhido para a construção de um forte, e com a cooperação dos indígenas edificaram a primeira capela. Em 8 de setembro foi levantada a cruz na Ilha de Sant'na, abençoou-se o terreno e a fortificação recebeu o nome de Forte de São Luís. A origem do nome da cidade é uma homenagem ao rei da França Luís IX. Assim iniciou-se a cidade de São Luís.

Dois dos religiosos da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos participaram da viagem na frota da Marinha da França, os religiosos foram os primeiros a narrar em um livro o início da história maranhense. Claude d'Abbeville foi autor da obra Histoire de la mission des pères capucins en l'isle de Maragnan et terres circonvoisines (1614, História da missão dos padres capuchinhos na Ilha de Maranhão e terras circunvizinhas). Esses religiosos indicaram os primeiros anais da região. A região foi apresentada como um paraíso terrestre; essa visão paradisíaca foi também a do religioso da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos Yves d'Évreux. Esse outro religioso foi autor da obra Suite d'histoire des choses plus mémorables advenues en Maragnan, ès annés 1613 et 1614 (1615; Continuação da história das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão, nos anos de 1613 e 1614). No livro, o frade capuchinho relata os costumes e as leis da sociedade. O livro enriquece o conhecimento do idioma nativo. Para a língua indígena, foram traduzidas as principais orações do cristianismo.

Os Capuchinhos eram populares, piedosos e simples, o que resultou numa expansão rápida na Itália. Desse modo, eles deram continuidade ao trabalho começado pelos franciscanos. Em todos os recantos do nosso interior encontramos recordações e relíquias de suas passagens, histórias milagrosas e cruzes sepulcrais daqueles que morreram pelo dever religioso. As atividades dos Frades Capuchinhos constavam da pregação, confissão, assistência aos enfermos e flagelados, apostolado entre os não católicos ou hereges.

A missão dos frades capuchinhos é preservar com a premissa da Paz e do Bem, através de ações sociais e religiosas, dando continuidade a uma trajetória espiritual cristã, que significa ser ungido pelo Senhor para acolher e respeitar todas as criaturas e realizar os serviços simples, com espírito de humildade, alegria e serviço; estando entre os que sofrem,  os pobres e marginalizados; de  modo particular, os capuchinhos se dedicaram a viver na selva, convivendo com indígenas, no sertão, na vida dos flagelados, nas vilas, na vida de conselheiros e orientadores. Em todos os recantos do Brasil, encontram-se relíquias de suas passagens, histórias milagrosas e cruzes sepulcrais daqueles que morreram pelo dever religioso.

A Simplicidade, proximidade com o povo, espírito fraterno nos conventos e no apostolado são os sinais visíveis que caracterizam o estilo de vida dos Frades Capuchinhos.

Quem é o frade menor capuchinho?

• Frade quer dizer irmão, aquele que vive a fraternidade e em fraternidade. Por isso, é o irmão que vive sem nada de próprio, mas reparte o saber, os dons, os bens, o afeto e o apoio em fraternidade;

• Menor significa ser ungido pelo Senhor para acolher e respeitar todas as criaturas. Realizar os serviços simples, com espírito de humildade, simplicidade, alegria e serviço, estando entre os que sofrem, entre os pobres e marginalizados;

• Capuchinho é o nome popular devido ao capuz pequeno e longo em forma de cone que os frades trazem incorporado a túnica;

O frade capuchinho é vocacionado a ser um homem de oração e contemplação. É chamado a ser homem da Justiça, da Paz e da Integridade da criação. O homem do amor à natureza, da ecologia, do respeito e diálogo, da promoção da vida. O frade capuchinho é chamado a ser missionário, a colocar-se a serviço da igreja, das comunidades, do povo de Deus. A ser portador da Boa Nova do Reino pelo seu testemunho de vida, pelo seu serviço e pela sua pregação.

Autor:
Frei Ulisses Pinto Bandeira Sobrinho, OFMCap
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