São Francisco e sua “empatia” universal

São Francisco e sua “empatia” universal

Em alguns fatos e dados tentarei mostrar como São Francisco (*1181 †1226) é um santo “moderno e de empatia universal”. Isso significa dizer que ele adaptou-se plenamente a situações variadas e universais. Inclusive – paradoxalmente – algumas relacionadas ao futuro. Isto, só se explica pela plenitude do amor que ele atingiu.

São Francisco foi o santo da “empatia”. Empatia é uma palavra moderna, criada em 1903, pelo filósofo alemão Theodor Lipps (1851 †1914), que foi o primeiro intelectual a dar importância aos estudos até então, considerados “estranhos”, de um jovem médico Dr. Sigmund Freud (1856 †1939). O termo é a junção de: ἐν = no lugar do outro / como se fosse o outro; + πάθος = sentimento... Portanto, ser capaz de colocar-se, de sentir-se plenamente no lugar do outro, sentir tal como ele sente. Há quem confunda empatia com simpatia, que é a virtude do candidato a cargo político, que conhece todo mundo, abraça a todos, até a véspera da eleição, numa mis-en-scène, para angariar o máximo de votos. Empatia é muito mais do que simpatia.

São Francisco demonstrou incomensurável empatia em muitas passagens de sua vida, cooe lemos em muitas situações relatadas por seus biógrafos. Uma vez, em uma quaresma, percebendo que frades sofriam com fome, ele mandou preparar uma lauta refeição para a comunidade, ele próprio serviu-se bem, e todos os outros serviram-se à vontade, sem constrangimento.

Uma prova da empatia de São Francisco está no fato de sua aceitação e admiração entre os nossos irmãos separados. O texto franciscano conhecido como “Oração de São Francisco”, publicado pala 1ª vez em 1916, foi muito divulgado por Anglicanos, Calvinistas e Luteranos. E me dizia em 1982, Frei Willibrod van Dick, bibliotecário de nosso Convento de Paris, que não está excluída a possibilidade de ela tenha sido escrita por um protestante, embora o texto seja profundamente franciscano.

Jean-Paul Sartre (*1905 †1980), filósofo ateu, no seu livro Cahiers pour une Morale, 589 pp cita Deus, 96 vezes. Este livro acaba de ser traduzido em português pela profa. Eliana Sales Paiva, da UECE (Fortaleza). Em 1960 J-P. Sartre esteve em Fortaleza, (vide: O POVO de 26/09/1960). Após palestra para professores da UFC, o Reitor, Antônio Martins Filho, ao perguntar o que ele queria fazer no seu dia de folga, ouviu dele: “Eu quero ir a Canindé!” Era no início do Novenário da festa de São Francisco.

Estupefatos, ninguém ousou perguntar-lhe qual o motivo. Seria o filósofo ateu, “simpatizante” de São Francisco? Não se sabe. Sartre foi criado pelo avô, um fervoroso protestante. Ele pode ter lido, na biblioteca do avô, a Vida de São Francisco, de Paul Sabatier (*1858 †1928), um estudioso protestante que escreveu uma biografia de nosso Pai. Seria ele, Jean-Paul Sartre, alguém que foi tocado pela universal empatia de São Francisco? A interrogação é plausível.

A empatia de São Francisco não era só com os coirmãos e com todas as pessoas, mas com todo o ser criado. É por isso que ele é o patrono da ecologia.

E nós, até que ponto somos empáticos com o coirmãos, com o povo de Deus que nos é confiado, e com todo ser criado?

                                                   

Frei Hermínio Bezerra de Oliveira

Da Academia Cearense de Língua Portuguesa-Cad. 27

Da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza-Cad. 01

Autor:
Frei Hermínio Bezerra de Oliveira, OFMCap
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