Vocação: Presente!

Vocação: Presente!

À margem de uma crônica:

Andei relendo uma crônica de Rubem Alves. Mil e uma vezes releio as crônicas, os contos, os romances que demonstram amor por mim. Só por isso eu os amo: porque eles me amaram primeiro.

Nessa crônica, Rubem faz uma distinção entre vocação e profissão. Segundo ele, na vocação a gente sente alegria na própria ação; na profissão, a gente encontra, talvez, alegria no ganho que dela deriva.

Conheci professores por vocação. Poucos, raros, inesquecíveis. Eles amavam tanto a própria vocação que pagariam para ensinar. Quem ama a própria vocação é um amante: faz amor com o que faz. Por isso faz bem.

Acho lindo quem diz, como Teresa de Lisieux, “minha vocação é o amor”. Acho mais lindo quem diz “amo minha vocação”.

À margem de uma biografia:

Minha vocação para a vida franciscano-capuchinha não foi um chamado, foi antes, como na Escola, uma chamada. Ao escutar meu nome, ora respondia presente!, ora respondiam (por mim) ausente! Nesse alternância de presença e ausência,  crescia meu desejo de consagrar-me a um gênero de vida que me regeneraria.

A chamada é diária, a resposta é também diária: por vezes diligente, por vezes negligente; por vezes corajosa, por vezes medrosa. Mas sempre responsável. Essa resposta, porém, responde não propriamente ao chamado, ou à chamada, mas ao chamador, isto é, àquele que clama, chama, convoca e diz “vem!”

Como sei que fui convocado para ser capuchinho? Não sei, no modo usual de saber, mas creio e por isso sei que não foi uma alucinação.

À margem de uma perplexidade:

Já se publicaram, e continuam vindo a lume, os resultados de pesquisas – sociológicas, psicológicas, teológicas e até psiquiátricas – sobre as razões que têm levado tantos Religiosos a deixar a Vida Consagrada.

Francamente não me preocupa o êxodo de alguns que nos deixaram já nos primeiros anos do pós-noviciado ou depois de anos de caminhada. Sou visitado sempre por uma dúvida: quem deixou de ser franciscano, será que algum dia o foi pra valer? Os que saem terão realmente um dia entrado?

O que me deixa perplexo é a constatação de que muitos, embora não saindo, vivem como se a chama do primeiro amor e o frêmito da primeira chamada já se tivessem apagado. Nada se vê que lembre o fervor do irmão fogo, o frescor da irmã água, a majestosa modéstia do irmão ar. São Francisco os chamaria, a esses indecisos que nem saem nem entram, de frades-parasitas.

À margem?

Que tal se neste mês de agosto, todo ele dedicado às várias vocações, rastreássemos as razões que nos mantêm à margem dessa vida que nos abraçou primeiro? Por que vivermos à margem e não na fluência dessa corrente que já “nos pegou”?

Garoto peralta / Garoto vadio / Garoto que salta da ponte / Para dentro do rio (Cassiano Ricardo).

Saltemos, enquanto há tempo...

Autor:
Frei Edilson Bezerra, OFMCap
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