

100 anos de Vida eterna de Frei Daniel de Samarate
100º DO TRANSITUS DO VENERÁVEL FREI DANIEL DE SAMARATE
Homilia proferida pelo Ministro Provincial da Missa de Pentecostes, 19 de maio de 2024
Igreja São Francisco de Assis (Belém-PA)
Caros irmãos! Reunidos na comunhão da Trindade Santa, em diversos lugares no mundo, particularmente aqui no Brasil e também na Itália, nos encontramos hoje aqui, neste santuário de São Francisco de Assis em Belém, que neste dia se torna a “Casa mãe” da nossa Província, para celebrar este dia santo de Pentecostes, e juntos, invocar o Dom do Espírito sobre nós e a nossa Província Capuchinha que neste ano celebra o seu jubileu de 25 anos, e de maneira especial celebrarmos os 100 anos do Transitus do Venerável Frei Daniel de Samarate. A Deus Louvado pelo seu testemunho de santidade que ele nos deixou.
No evangelho que ouvimos, Jesus manifesta o Dom do Espírito Santo para que os discípulos manifestem o dom do perdão. Este sopro de Deus tocou muitos homens e mulheres de Deus ao longo da história, e certamente também inflamou o coração de Frei Daniel de Samarate.
Frei Daniel: nascido na Itália, com o nome de Felice Rossini, veio ao Brasil em 1898, ainda estudante de Teologia, com apenas 22 anos de idade. Chegando primeiramente aqui em Belém, foi depois enviado para Canindé, no Ceará, para completar os seus estudos e ser ordenado sacerdote de Cristo. Em fevereiro de 1900, foi enviado para a Colônia do Prata, no Pará, aonde permaneceu até 1913, quando os sinais da hanseníase começaram a se manifestar no seu corpo. Do Prata foi para São Luís, mas com a doença em estado irreversível, teve de voltar para Belém, para ser encaminhado para o Leprosário de Tucunduba sempre em Belém, em 1914. Lá permaneceu até a sua morte, ocorrida aos 48 anos de idade.
O jovem Felix tinha desejo ardente de Deus e do seu amor. Esta sede de Deus preencheu todo o seu ser. Frei Daniel bebeu da fonte, que é o lado aberto de Cristo e a ele se entregou com alegria. Foi o desejo de Deus que levou a frei Daniel a conformar a sua vida à Cristo pelos Conselhos evangélicos da Obediência, pobreza e castidade, no Carisma Franciscano-Capuchinho. Foi o desejo de Deus que fez com que frei Daniel se tornasse o grande e intrépido missionário que hoje nós veneramos.
E hoje? O que podemos ganhar com o exemplo de Frei Daniel? Em um mundo onde há desejo de tudo, com promessas de felicidades oferecidas pelo desejo irrefreável do consumismo e alimentadas pelas redes sociais, o que não pode faltar na nossa vida? Há um vazio existencial, que as alegrias passageiras deste mundo não podem preencher. Não enchem este vazio. Temos uma sede ilimitada. E somente Cristo, a fonte de água viva, poderá preencher esta sede. Quão intenso e profundo é este desejo de Deus. É o Espírito Santo a água desta fonte. Por isso, meus irmãos, neste dia Santo, devemos pedir ao Senhor que derrame incessantemente em nós esta água viva que é o Espírito Santo de Amor. Para que sejamos libertados do mal, recriados à imagem de Cristo, com coração novo, para vivermos como filhos e filhas de Deus prontos para amá-lo e servi-lo nos irmãos, como fez Frei Daniel.
Foi o Espírito Santo de Deus que realizou maravilhas em Frei Daniel, animou a sua missão, sustentou a sua caminhada, dobrou as suas durezas, inspirou a sua mente, revigorou a sua labuta, consolou a sua alma e manteve acesa a chama da sua fé, iluminando os seus passos na sua missão. Após o trágico acontecimento de Alto Alegre, em 1901, Frei Daniel, com apenas 24 anos, tornou-se o diretor da Colônia Agrícola do Prata, e como evangelizador, orientava os indígenas e os colonos nos seus trabalhos. Construiu o colégio, a Igreja de Santo Antonio, e tantas outras estruturas que serviam a todos naquela Missão. A fama do intrépido missionário foi aumentando, arrancando elogios do Arcebispo de Belém, do Governador do Estado, mas também dos pequeninos escondidos nas matas e regiões pobres do “Salgado” paraense.
A sua pastoral foi aumentando, de modo que ele alcançava os municípios de Igarapé Açu, Castanhal, Marapani, Santarém Novo, Peixe-Boi, até Pirabas, atingindo o litoral paraense. Ele, com seus frades, de canoa ou de barco, pelo Rio Maracanã, a pé ou de carroça, ia ao encontro dos seus irmãos desvalidos. Suas visitas eram periódicas, e nestas andanças eram lançadas as sementes do Evangelho. Nos encanta a sua criatividade, sua dinamicidade no seu apostolado neste chão. Nos encanta a sua criatividade paciente em relacionar-se com os grandes e os pequenos.
Frei Daniel, jovem, zeloso, dinâmico, fronte alta, tornou-se logo o mais popular capuchinho dentre os frades lombardos. Alegre e vivaz, foi inimigo da tristeza e da preguiça. Para as crianças do colégio, não mediu esforços para a sua educação. Até uma banda musical foi preparada por ele, com o auxilio das Irmãs Capuchinhas, cuja fama se espalhou por toda a região, até na capital.
A sua vida (48 de idade, dos quais 33 de apostolado e 15 de progressiva moléstia), foi encurtada pela hanseníase. Mas Frei Daniel não se intimidou. Bebeu o cálice até o fundo e agarrou-se à Cruz para subir o calvário de amor. O seu ministério sacerdotal, agora entre os hansenianos do Tucunduba, foi como água da chuva que irriga o sertão deserto. Frei Daniel serviu aos seus irmãos hansenianos, fazendo com que eles se sentissem amados por Deus. Embora no começo tenha sido fácil, frei Daniel foi conquistando pouco a pouco os seus corações, alcançando-os para Cristo. Com os hansenianos celebrava festividades, Santas Missões, tríduos, primeiras comunhões, batismos, casamentos e unções.
Meus irmãos, neste dia, em que cantamos “Enviai o vosso Espírito Senhor e renova a face da terra”, vemos mais uma vez que de fato Deus renova a face da terra através dos homens e mulheres que abrem o seus corações ao seu Espírito de Amor e se deixam conduzir por ele. Assim foi com os apóstolos, com os mártires, os santos e também aqui, com os missionários Capuchinhos lombardos que chegaram no final do século passado, em especial o Venerável Frei Daniel. E hoje: quando cada um deixa o seu coração dócil ao seu Espírito, o mundo se renova, a face da terra ganha novo vigor. Se confiramos nele, o seu amor agirá livremente no nosso ser. O Espírito Santo, que derrama sobre a Igreja a sua graça septiforme, derramou em frei Daniel o seu amor, em cuja vida se mostrou claramente a presença dos 7 dons: A Sabedoria do seu coração, o Entendimento profundo da sua mente; o Conselho certo nas dúvidas e incertezas; A Fortaleza nas provações; a Ciência e a aceitação da vontade de Deus; a Piedade sempre e nas suas intenções, o Temor de Deus até o fim.
A Deus louvado pela vida de Frei Daniel, que reconheceu na doença um favor especial.
Louvado sejas, Meu Senhor, pela vida dos seus Santos. Amém.