A coroação da experiência de amor

A coroação da experiência de amor

É sabido que Francisco em sua juventude vivera uma vida  boemia, e ainda,   financiada pelo poder aquisitivo de seu pai ou da família, no entanto, em meio a diversos eventos causados por iniciativa de Deus o jovem pôde chegar ao seu amado esposo. Ele mesmo nos afirma na sua primeira carta direcionada aos fiéis, a respeito desse profundo desejo de dedicar-se a realização da vontade do Pai que está nos céus e tornar-se irmão de Cristo e participante de sua Paixão.

Este contato com a Paixão de Cristo é uma experiência única e ímpar em sua vida, ou seja, é um ensaio onde o notável jovem Francisco demonstra o desejo de dedicar-se ao seu Amado e ao serviço do Mesmo, e assim, levar a si mesmo a um encontro particular, buscando sempre os lugares longínquos e por vezes, eram lugares de difícil acesso, mas que possibilitavam o encontro com seu Cristo.

Este é um sublime desejo que culmina no alto do monte Alverne com Francisco frente ao Serafim. Naquele momento, ele pôde ter certeza da vitória  advinda com esforço e superação de si mesmo, bem como, das dificuldades da subida ao monte, onde havia se recolhido para a oração e buscado o encontro com o que lhe era considerado como o mais sagrado.

No Alverne, o próprio Cristo é quem o torna participante do mistério da Paixão. Ele é quem lhe permite sentir a dor provocada pelos cravos da cruz, dor esta, que lhe parecia insuportável, mas que davam o consolo de saber que carregada a remissão de uma humanidade que não amava ao seu Amado como lhe parecia o mais correto, deseja ele, poder mostrar aos homens e mulheres com quem tinha contato, almejava que todos tivessem uma experiência com aquele que ofereceu-se à morte por eles.

O jovem boêmio que esbanjava nas festas o poder aquisitivo de seu pai, já não estava em condição de homem velho e assume um jovem que deixava as palavras de louvores ao seu Senhor saírem de seus lábios como melodias de amor. Não somente o seu corpo tinha o poder das palavras, senão, todo o seu ser era arrebatado em intimidade com Deus, pois em seu interior havia algo que buscava, pois, uma intimidade com Ele. Procurava algo que lhe propiciasse a capacidade de assumir posturas de reverência e de amor.

Seu corpo tinha expressões próprias e falava por ele o que mais desejava e buscava. Em alguns momentos, tomado pelo seu profundo amor a Deus e por maior intimidade, estando na presença exclusivamente do Mesmo, era tomado por tamanha leveza que ficava suspenso ao ar. Por que tinha poderes sobrenaturais? Não, porque toda a obra era de Deus e não d’ele, isso sabia e não tinha dúvidas, toda e qualquer obra em sua vida era iniciativa de Deus e consequência da sua graça.

O majestoso Alverne com sua singular forma, com suas rochas compostas de calcário compactado e granoso era um de seus locais preferido ao encontro. Suas pedras eram ásperas e tinham uma cor pálida. No alto do monte é o local de encontro entre Francisco e seu Amado. Este local se assemelha aos montes do Antigo Testamento onde os profetas descreviam como lugar de intimidade consigo e com o Divino.

Para Francisco, a montanha era um lugar santo - onde o próprio Deus se fazia presente e onde os seus anjos também se faziam presentes com Ele – No cume se podia ter uma experiência íntima que parte de dentro para fora e se manifesta no seu corpo desejoso de estar junto ao seu Amado e que de forma expressiva demonstra o que está na intimidade de seu coração.

Aquela propriedade, chamada de  Alverne foi uma doação de um senhor chamado Orlando, no entanto, Francisco acreditava que desde a intenção da doação já demonstrava uma ação do seu Senhor, o qual ele nominava de: Sumo Bem; Bem Inteiro; Altíssimo Senhor, entre outros adjetivos usados por ele para dizer o que lhe significava o seu Amado. Essa doação de seu Orlando encheu de alegria o seu coração, pois seria aquele monte um lugar para a meditação e penitência, seria um lugar de encontro.

Tamanha era a devoção de Francisco e seu desejo de estar com seu Amado que seu estado de alma tomou conta de todo o monte doado. De fato, era um lugar preparado por Deus para o seu humilde servo. Os maiores encontros de Francisco com Deus, bem como, as suas belas experiências favoreceram para que o coração de seu fiel companheiro tornasse desejoso de também vive-las. Por vezes Frei Leão, o seu humilde escrivão, lhe encontrava em sobressaltos de êxtase e lhe parecia tão suave que levitava no ar e Frei Leão tomado pelo desejo de tal relação que lhe agarrava as pernas e a elas ficava abraçado.

Dois anos antes de sua morte Frei Francisco - no alto do Alverne - teve a coroação de seu contato familiar com o seu Senhor. Pode então, ver um homem à semelhança de um Serafim, uma criatura de tamanha beleza que tinha seis asas, os quais, um par lhe possibilitava voar, outro par lhe cobria o rosto e o terceiro par lhe acobertava todo o corpo. No encontro entre o frei e o serafim que naquele momento se fazia na sua presença, ficou claro que algo propiciou aquela belíssima cena, que ele pudesse se entregar como um servo que por verdadeiro amor de coração se confia ao seu Amor.

Como qualquer outra pessoa em sua condição, podemos considerar que, um primeiro Francisco não compreendeu o que estava acontecendo, mas entregou-se e rejubilou-se dando graças, pois estava diante de tão sublime criatura. No entanto, ao observar a belíssima imagem do serafim, notou que a mesma estava como que em crucificação e tal situação o desconcertava. O Serafim tinha as mãos e pés, como que transpassadas pelos cravos que usaram para pregar o Cristo. As cabeças dos cravos estavam sobrepostas sobre a sua pele, enquanto que a ponta saía do outro lado da carne. Não somente as mãos e os pés estavam chagados senão o peito de tão bela criatura que se assemelhava a Cristo.

Tal encontro era fruto de seu desejo de fazer parte dos mistérios do seu Amado, pois desejava ardentemente se fazer participante da paixão de Cristo. Tamanho era seu desejo que naquele momento, diante de indescritível beleza, os sinais da Paixão começaram-lhe a aparecer em suas mãos, pés e em seu lado.

O mesmo Francisco, que na sua juventude tinha o desejo de ser cavaleiro e buscou se preparar para tal - indo até mesmo para a guerra - agora buscava outro serviço. Será ele o maior de todos os cavalheiros de seu Amado? Sua cortesia cavaleiresca lhe deu a capacidade de buscar servir o Senhor e não ao servo, buscou ajudar a todos aqueles que mais tinham necessidade. Assim também, buscou reconstruir a Igreja de seu Senhor, não somente o templo físico, senão também o templo que é cada leproso da sociedade, que necessitava de cuidados.

Francisco desejou reconstruir a Igreja de seu Senhor, este lhe pede para salvá-la das ruínas e com sua vontade de servir e de ser verdadeiro com seu chamado, buscou a reconstrução, não deixando jamais de buscar se encontrar e estar com o Senhor. Francisco não teria conseguido senão o seu desejo de amor e sem ele não teria chegado tamanha expressividade em sua oração, meditação e penitência.

Uma coisa só é certa: Francisco é o homem do segundo milênio. É aquele que é venerado por seu amor a Deus e por todos estes fatos é seguido ainda hoje por muitos que desejam como ele viver uma profunda experiência de amor e no fim ser coroado com a coroa da participação dos mistérios de Deus.

Que a seu exemplo e sob a sua intercessão a humanidade possa acordar para o serafim que fala a cada um todos os dias com os sinais claros da Paixão de Cristo, especialmente os mais desfavorecidos, seja qual for a sua situação. Que Deus abençoe a cada um, guarde e mostre a sua sagrada face e tenha misericórdia, que Ele volte o seu olhar como voltou a Francisco e dê a sua paz que é o desejo mais íntimo de cada homem e mulher. Ele Altíssimo e Sumo Deus, Pai, e Filho e Espírito Santo.

Autor:
Frei Francisco Lima de Albuquerque, OFMCap
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