Impressão dos Estigmas em São Francisco de Assis

Impressão dos Estigmas em São Francisco de Assis

Já se passaram quase oitocentos anos desde que Francisco de Assis, o poverelo, recebeu em seu corpo as marcas da paixão e misericórdia de Cristo. Nosso seráfico pai enfrentou uma ardorosa busca para imitar e entregar àquele que totalmente se entregou por nós.

Depois de sua conversão ele começa uma caminhada de penitência, jejum e oração demonstrando o desejo ardente de unir-se a Cristo Jesus, o “Amor não amado”. As penitências feitas por Francisco, na maioria das vezes, eram radicais ao ponto de levar seu corpo a sentir grandes incômodos como nos narra o hagiógrafo Tomás de Celano: “Se tinha alguma tentação da carne, como acontece, mergulhava durante o inverno num buraco cheio de gelo e lá ficava até passar toda rebelião da carne.” (42,8)

Francisco sempre negava o conforto de uma cama, dormindo na terra nua e usando uma pedra ou um pedaço de madeira como travesseiro. Em vários momentos o poverelo se abstia de alimentos por um longo período de tempo chegando a comer, entre o período de quarenta dias, a metade de um pão. Esses poucos gestos demonstram o excessivo amor de Francisco para com o seu Amado. Para muitos, esses atos de extrema penitência são considerados loucuras, mas, para ele, são pequenos gestos de amor movido pelo desejo de completar o “sofrimento que faltou na paixão de Cristo”.

Em 1224, no monte Alverne, Francisco de Assis foi marcado em sua alma e em seu corpo, com as marcas de Cristo assim como nos narra Celano:

Dois anos antes de entregar sua alma ao céu [...] Deus lhe deu a visão de um homem com a forma de um Serafim de seis asas, que pairou acima dele com os braços abertos e os pés juntos, pregado numa cruz. [...] Ao ver isso, o servo do Altíssimo se encheu da mais infinita admiração, mas não compreendia o sentido.  Experimentava um grande prazer e uma alegria enorme pelo olhar bondoso e amável com que o Serafim o envolvia. Sua beleza era indizível, mas o fato de estar pregado na cruz e a crueldade de sua paixão atormentavam-no profundamente.  Levantou-se triste e alegre ao mesmo tempo, se isso se pode dizer, alternando em seu espírito sentimentos de gozo e de padecimento.  Tentava descobrir o significado da visão e seu espírito estava muito ansioso para compreender o seu sentido.

Estava nessa situação, com a inteligência sem entender coisa alguma e o coração avassalado pela visão extraordinária, quando começaram a aparecer-lhe nas mãos e nos pés as marcas dos quatro cravos, do jeito que as vira pouco antes no crucificado. (CELANO, cap. 3, 94-95)

A vida do poverelo de Assis, no Alverne, foi marcado por uma busca constante de oração e de uma incansável prática de penitência. As chagas impressas no corpo de Francisco revelam as marcas que o amado deixa em seu amante. O processo de “Cristificação” passa por um dinamismo doloroso de conversão diária. Ele ensina à uma aceitação diária de todas as dificuldade e limitações. A partir deste processo somos chamados a nos transformar diariamente nesse Cristo que tanto nos ama e nos ensina.

Todo acontecimento no monte Alverne é a concretização de uma contínua busca e uma completa abertura de Francisco para com Cristo, ou seja, as chagas representam uma a transformação completa e integral em todas as áreas de sua vida como: seu modo de agir, de pensar, e de sentir. A cruz, para Francisco, é a concretização da Perfeita Alegria, é a forma onde ele encontra a mais expressiva manifestação do eloquente Amor. Os estigmas concretizam no corpo de Francisco a coroação de uma vida de contemplação ativa e efetiva.

Autor:
Frei Taynan Ferreira Cunha, OFMCap
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