Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

O pecado e a morte entraram na vida dos homens e mulheres:

“... por um só homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado, a morte...” (Rm 5, 12).
Houve uma promessa: a descendência da “mulher” esmagaria a cabeça da “serpente”, e, então, a morte e o pecado seriam vencidos:
“Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que morreram” ( 1Cor 15,20).

Jesus Cristo ressuscitou como o primeiro, e os cristãos após Ele.

“Porei inimizade entre ti (serpente) e a mulher, entre a tua descendência e a descendência da mulher. E Ela (a descendência da mulher) te atingirá a cabeça. E tu lhe  atingirás o calcanhar” (Gn 3, 15).

Não se pode separar a “descendência”, Jesus Cristo, da mulher, a mãe da nova descendência, a geradora de Jesus, Maria Santíssima. Com a ressurreição, a promessa se cumpriu, e Jesus, vencendo a morte e o pecado, passou a manifestar um corpo glorioso. Com a ressurreição de Jesus, Maria, após sua morte, foi “elevada aos Céus” (assunção), glorificada no seu corpo virginal. De fato, o dogma da Assunção declara:

“... a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi elevada em corpo e alma à glória celestial”.

Em “corpo e alma”. Com tal definição a fé da Igreja quer afirmar que a salvação é total, não é só da alma de Maria, mas da sua pessoa, em sua totalidade. Em “corpo e alma” seremos ressuscitados também nós: não perderei minha identidade, meu eu, minha corporeidade. Em “corpo e alma”: não me tornarei uma mera energia ou uma gota d´água em um qualquer oceano; nada de nirvana ou reencarnação que me “tornaria” não sei quem ou o quê.

Quando falamos de corpo ressuscitado estamos falando de corpo somático ou biológico sujeito à caducidade? Certamente não, pois estamos nos referindo a corpo glorioso (cf. 1Cor 15, 54), luminoso, cheio de Deus.

- A comunidade cristã primitiva já atestava a existência de irmãs e irmãos já salvos em Deus. É por isso que encontramos nas Sagradas Escrituras (Bíblia) passagens como as que seguem:

“... uma igreja esplêndida, sem mancha, nem ruga, nem defeito algum, santa e irrepreensível” (Ef 5, 27),
“Uma mulher revestida de sol” (Ap 12, 1).

- Não é verdade que todos os humanos resistem à “graça”, pois existe um “... resto que diz sim à graça” (Rm 11, 6).

Não se trata só de uma maneira de falar ou de algo genérico (uma “igreja”, um “resto”), mas também de um rosto, de algo que acontece em uma pessoa, uma criatura: em Maria de Nazaré, por exemplo. Por isso, Nossa Senhora, que é apresentada como verdadeira discípula, como bendita porque acreditou, como mulher vestida de sol (de Deus), como igreja irrepreensível, como quem diz sempre “sim” à graça, é proclamada “Assunta” (elevada) nos Céus. Ela, criatura de Deus, conseguiu: assim podemos nós também conseguir, pois, afinal, todos nós somos chamados à assunção em Deus.

- Alguém pode dizer: “Jesus Cristo, o jovem Galileu, viveu conosco, ressuscitou, mas era Deus. Nós, não! Somos meras criaturas, não respondemos completamente à vontade do Senhor”. Diante disso é que a festa da Assunção vem nos provocar:

“Olha...veja Maria, criatura também ela, e, no entanto, chegou lá”. Não esqueçamos, portanto, do nosso amanhã, da nossa meta final. Não esqueçamos que somos chamados à mesma “coisa” que aconteceu com Maria e acontece com a Igreja: somos chamados à assunção, pois uma vida divina foi nos dada, e desde agora já podemos nos deliciar desta vida nova: “... com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus em Jesus Cristo” (Ef 2, 6).

- Pela Encarnação, pela vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, a vida do Eterno já se faz acontecer em todo discípulo do Senhor. De fato, “... vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3, 3). E não só temos uma “vida escondida com Cristo”, mas também já somos assumidos e acolhidos pelo céu: “... com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus em Jesus Cristo” (Ef 2, 6). De alguma maneira já participamos de sua ressurreição e ascensão junto ao trono de Deus.

- A festa da Assunção nos anima no sentido de revelar que isso já aconteceu plenamente em Maria, pois, o Verbo, Deus mesmo, se fez carne na carne de Maria, e, assim, a carne de Maria ganhou o mesmo destino da carne do seu Filho. O Verbo de Deus (Isto é, Deus como ação e presença) gerou e assumiu a carne de Maria de uma maneira especial e única quando na carne de Maria habitou por nove meses. Uma união assim tão carnal e espiritual, tão humana e divina, não poderia ser passageira, mas inseparável: é para sempre tal união. A carne de Maria, a pessoa de Maria, habitada pelo Verbo, por Deus, foi assumida para sempre, está gloriosa no Céu:

“... a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta (elevada) em corpo e alma à glória celestial”

(Assim o dogma define).

Autor:
Frei João Santiago, OFMCap
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