Uma experiência de quem procura

Uma experiência de quem procura

O evangelista João, ao narrar o chamamento dos primeiros discípulos, permite-nos, pela própria dinâmica do texto bíblico, sairmos da posição de leitores e entendermo-nos como partícipes do nascedouro do seguimento de Jesus. Após o anúncio feito por João Batista em referência àquele que passava por entre ele e dois de seus discípulos, “eis o cordeiro de Deus” (Jo 1, 36), estes mesmos seguem o anunciado, sem nada conhecer senão que já não podiam permanecer no mesmo lugar.

A presença dos que seguiam Jesus é por ele notada. O evangelista utiliza o verbo θεάομαι para designar um olhar mais profundo, como quem contempla, e, desse modo, Jesus questiona-lhes acerca do que buscam, pois quem caminha sem saber ao certo seu destino está à procura do novo, do desconhecido. A resposta dos discípulos é, na verdade, o posicionamento de uma questão central, a saber, “onde moras?”, ou seja, onde Jesus residia ou permanecia (μένω). A resposta que o Senhor lhes dá, deveras, é um convite, que nos conduz à fonte de uma experiência autêntica, isto é, uma imersão a partir de si mesmo em direção ao desconhecido procurado. Os discípulos foram e viram onde o Senhor morava, permanecendo aquele dia na sua presença.

Eis a experiência cristã fundante: ir, ver e permanecer com o Senhor um dia de cada vez, pois, a cada dia, basta seus desafios e suas demandas. Aceitar o convite de Jesus exige deslocamento, movimento e mudança, tanto física (formar comunidade) quanto espiritualmente (conversão, mudança de mentalidade), pois requer que sejamos caminhantes, assim como ele é o Caminho; verdadeiros em nossas intenções e ações, haja vista ser ele a Verdade; e viventes, uma vez que não há como permanecer a cada dia na Presença, junto àquele que é a Vida, e não se nutrir de sua realidade.

A partir dessa primeira entrada no texto bíblico, podemos entender um pouco o processo de conversão de São Francisco, que, por meio da Regra Bulada, estendeu a toda a Ordem aquilo que para ele era fundamental: “A Regra e vida dos Frades Menores é esta, a saber: observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo vivendo em obediência, sem próprio e em castidade” (RB 1). Cerca de oitocentos anos depois da experiência fundante do carisma franciscano, principiado por Francisco e seus primeiros companheiros, ainda há jovens, como o pai seráfico à época de sua conversão, que almejam “per-seguir” os passos de Jesus  de Nazaré como Francisco de Assis.

Imbuídos desse espírito, dentro do processo formativo dos Frades Menores Capuchinhos, recomenda-se vivamente que, na etapa do Pós-noviciado, os jovens frades possam experienciar a jovialidade do carisma franciscano em um ano de tirocínio. Durante esse período, pleiteia-se renovar a chama carismática por meio de um retorno às fontes da oração, fraternidade universal e missão. Por isso, o tirocínio deve ser vivenciado fora da circunscrição provincial, justamente, rompendo com uma mentalidade de provincialismo e fomentando a consciência da universalidade da vocação franciscano-capuchinha, assim como orienta a Ratio Formationis: “É importante superar o provincialismo também em nível formativo, favorecendo o diálogo, o conhecimento recíproco e a colaboração” (III, n. 303).

Neste ano de 2023, as Províncias Nossa Senhora da Penha do Nordeste do Brasil (PRONEB) e Imaculada Conceição do Estado de São Paulo (PROCASP) enviaram os pós-noviços José de Sá Araújo Neto e Josué Joaquim de Lima para vivenciarem o Tirocínio na Delegação São Francisco de Assis, no Chile. Em um primeiro momento, os dois jovens frades provenientes do Nordeste do Brasil viajaram a São Paulo no dia 24 de janeiro, juntamente com o Ministro Provincial desta circunscrição, frei Franklin Alvez, e foram confiados aos cuidados de frei Arcanjo Soares, Ministro Provincial de São Paulo. Depois de conhecer algumas fraternidades e participar de eventos provinciais, frei José e frei Josué viajaram no dia 11 de fevereiro, juntamente com frei Anderson Luís, para Santiago, capital do Chile, sendo acolhidos pela fraternidade Santo Antônio. Após alguns dias, viajaram a Los Ángeles, onde permanecerão até a data da Assembleia (20 a 24 de março), partindo, então, separadamente, para as fraternidades onde desempenharão atividades relacionadas, sobretudo, com a Pastoral Vocacional e a Comunicação.

Destarte, rogamos ao Altíssimo e Glorioso Deus, fonte de todo bem e toda graça, que estes irmãos possam vivenciar, ao longo de todo ano, o carisma franciscano-capuchinho em terras chilenas. Ademais, seja um tempo propício para fomentar a colaboração formativa entre as províncias e ampliar a atuação capuchinha para além das fronteiras. Paz e Bem!

Autor:
Frei José de Sá Araújo Neto, OFMCap
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