Anônimo Perusino - Capítulos 10-12

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Capítulo 10

Quando os cardeais, que se tornaram benévolos para com os frades, começaram a aconselhá-los e ajudá-los.

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1 O venerável pai, Cardeal Dom João de São Paulo, que muito freqüentemente dava conselho e apoio a Francisco, recomendava, diante dos outros cardeais, os méritos e a atividade de Francisco e de todos os seus irmãos. 2 Ouvindo isso, comoveram-se as suas entranhas para querer bem aos frades, e cada um desejava ter alguns frades em sua cúria, não para receber algum serviço deles, mas por devoção e pelo grande amor que tinham para com os frades.

3 Certa dia, quando o bem-aventurado Francisco chegou à Cúria, cada um dos cardeais pediu-lhe frades; e ele os concedeu bondosamente, de acordo com a sua vontade.

4 Mas o sobredito Dom João, que amava os santos pobres, morreu e descansou em paz

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1 Depois disso, o Senhor inspirou um cardeal de nome Hugolino, bispo de Óstia, que amou profundamente o bem-aventurado Francisco e seus frades, não só como um amigo, mas antes como um pai. 2 Tendo ouvido a sua fama, o bem-aventurado Francisco aproximou-se dele. 3 Quando o viu, o Cardeal recebeu-o com júbilo, dizendo-lhe; — “Eu me ofereço a vós para conselho, auxílio e proteção à vossa vontade, e quero que me tenham recomendado em vossas orações”.

4 O bem-aventurado Francisco rendeu graças ao Altíssimo, que lhe havia inspirado o coração para dar conselho, auxílio e proteção, e lhe disse: 5 “Quero, de boa vontade, ter-vos como pai e senhor meu e de todos os meus irmãos, e que todos os frades rezem a Deus por vós”. 6 Em seguida pediu que se dignasse vir ao capítulo de Pentecostes. 7 Ele aceitou e vinha todos os anos.

8 Quando vinha, todos os frades reunidos em Capítulo saíam em procissão ao seu encontro. 9 Ele, quando os frades chegavam, apeava do cavalo e seguia a pé, com os frades, até a igreja, pela devoção que tinha para com eles. 10 Depois fazia-lhes um sermão, celebrava a Missa, e o bem-aventurado Francisco cantava o Evangelho.

Capítulo 11

Como a Igreja protegeu-os das mãos dos perseguidores.

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1 Depois que passaram onze anos do começo da religião, multiplicado o número dos frades, foram eleitos Ministros e enviados com uns tantos frades por quase todas as províncias do mundo, onde se cultuava a fé católica.

2 Em algumas províncias eram recebidos mas não lhes permitiam edificar habitações. 3 Por alguns, eles eram expulsos, pois temiam que os frades não fossem fiéis cristãos, porque ainda não tinham uma Regra confirmada pelo Papa, mas só concedida. 4 Por isso sofreram muitas tribulações por parte dos clérigos e dos leigos, foram atacados por ladrões, e voltaram para São Francisco angustiados e aflitos. 5 Essas tribulações lhes foram feitas na Hungria, na Alemanha e outras províncias ultramontanas.

6 Os frades notificaram essas coisas ao referido Cardeal senhor ostiense. 7 Este, convocando o bem-aventurado Francisco, levou-o ao Papa Honório, porque o senhor Inocêncio já tinha morrido, e fez com que lhe escrevesse outra Regra e a confirmasse, e que fosse reforçada pelo selo do referido papa.

8 Nessa Regra foi prolongado o prazo do capítulo, para evitar o trabalho dos frades que moravam em regiões longínquas.

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1 O bem-aventurado Francisco pediu ao papa um dos cardeais, que fosse guia, protetor e corretor, como está estabelecido na própria Regra. 2 Foi-lhe concedido o supradito senhor ostiense.

3 Depois disso, tendo um mandato do papa, o senhor ostiense estendeu a sua mão para proteger os frades, mandou cartas para muitos prelados junto aos quais os frades tinham passado tribulações, para que não fossem contrários aos frades, mas antes, para que pregassem e morassem em suas províncias, dessem-lhes conselho e auxílio, como a varões bons e religiosos, aprovados pela Igreja. 4 E muitos dos outros Cardeais mandaram suas cartas semelhantemente, para o mesmo fim.

5 E assim, num outro capítulo, quando o bem-aventurado Francisco deu aos ministros a licença de receber frades na Ordem, foram reenviados frades àquelas províncias; levando, como dissemos, a regra confirmada e as cartas do Cardeal. 6 Quando os prelados viram a regra confirmada pelo Sumo Pontífice e também o bom testemunho sobre os frades dado pelo Cardeal ostiense com outros cardeais, concederam que eles edificassem, morassem e pregassem em suas províncias.

7 Feito isso, quando os frades já lá moravam e pregavam, muito,s, vendo o seu comportamento humilde, os costumes honestos e as palavras muito educadas, vieram aos frades e assumiram o hábito da santa religião.

8 O bem-aventurado Francisco, vendo a confiança e o afeto que o senhor de Óstia tinha para com os frades, amava-o de coração; 9 e quando lhe escrevia cartas dizia assim: “Ao venerável pai em Cristo, bispo de todo o mundo”.

10 Passado pouco tempo depois, o referido senhor ostiense, de acordo com a palavra profética do bem-aventurado Francisco foi eleito para a Sé Apostólica, e se chamou Papa Gregório IX.

Capítulo 12

Sobre a passagem do bem-aventurado Francisco, seus milagres e canonização.

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1 Passados vinte anos depois que o bem-aventurado Francisco aderiu à perfeição evangélica, Deus misericordioso quis que ele descansasse de seus trabalhos, 2 porque trabalhou muito em vigílias, em orações e em jejuns, em súplicas, em pregações, em viagens, em solicitudes, na compaixão pelo próximo; pois entregou todo o seu coração a deus seu Criador, e o amou de todo coração, com toda a alma, com todas as suas entranhas. 3 Levava a Deus no coração, louvava-o com a boca, glorificava-o em suas ações. 4 E se alguém proferia o nome de Deus, dizia: — “O céu e a terra deviam inclinar-se a este nome”.

5 Querendo o Senhor mostrar o afeto com que o amava, pôs em seus membros e no seu lado os Estigmas de seu diletíssimo Filho. 6 E porque o servo de Deus desejava entrar na sua casa e no lugar onde morava a sua glória, o Senhor o chamou para junto de si, e assim migrou gloriosamente para o Senhor.

7 Depois disso apareceram muitos sinais e milagres no meio do povo, pelos quais os corações de muitas pessoas, que eram duras para crer naquelas coisas que o Senhor se dignara mostrar em seu servo. Foram mudados para a ternura, 8 dizendo: — “Nós, insensatos, julgávamos sua vida uma loucura e seu fim sem honra. 9 Eis como foi contado entre os filhos de deus e sua sorte está entre os santos”.

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1 O venerável senhor e pai, Dom Gregório Papa, venerou, também depois da morte, o santo que amara em vida. 2 E vindo com os cardeais ao lugar onde estava enterrado o corpo do Santo, anotou seu nome no catálogo dos santos.

3 Por causa disso, muitos grandes senhores e nobres, deixando tudo, converteram-se ao Senhor com suas esposas, filhos e filhas, e toda a sua família. 4 As esposas e filhas fecharam-se nos mosteiros. 5 Os maridos e filhos assumiam o hábito dos frades menores.

6 Assim se cumpriu a palavra que tinha predito antes aos frades: 7 “Dentro de não muito tempo virão ter conosco muitos sábios, prudentes e nobres, e ficarão conosco”.

Epílogo

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1 Eu vos peço, caríssimos irmãos, que mediteis diligentemente estas coisas que escrevemos para nossos pais e irmãos caríssimos, 2 que o entendais corretamente e procureis pôr em prática, para que mereçamos ser participantes com eles da glória celeste.3 À qual nos conduza nosso Senhor Jesus Cristo.