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Como, ao iniciar a perfeição evangélica, mudou de roupa pela segunda vez, pregou e começou a ter irmãos; e como previu o seu êxito e o deles, enviou-os dois a dois pelo mundo e depois conseguiu reuni-los novamente.

15.

1 Terminada, como foi dito, a obra das três igrejas, o bem-aventurado Francisco vestia ainda a roupa de um eremita daquele tempo, e, levando na mão um cajado, de pés calçados, andava cingido com uma correia.

2 Um dia, porém, ouvindo na celebração da missa as palavras que, no Evangelho, Cristo disse aos discípulos enviados a pregar, isto é, que não deviam possuir nem ouro nem prata nem levar alforje para o caminho nem sacola nem bastão ou pão, nem ter calçados nem duas túnicas (Jo 10,9-10; Mc 6,8-9);

3 compreendendo-as melhor explicadas com exatidão pelo próprio sacerdote, cheio de indizível alegria logo disse: “É isso que eu busco, é isso que desejo de todo o coração!”

4 Então, confiando à sua forte memória o que ouvira, tratou alegremente de cumpri-lo: depôs logo o que tinha em dobro e não usou mais bordão nem calçados nem sacola nem bolsa.

5 Fez uma túnica muito desprezível e grosseira, jogou a correia e cingiu-a com uma corda.

16.

1 Colocando toda solicitude do coração no cumprimento das palavras da nova graça que ouvira, por divina inspiração começou a ser um anunciador da perfeição evangélica e proclamar as palavras da penitência em público, com simplicidade.

2 Seus discursos não eram vazios ou ridículos, mas cheios da força do Espírito Santo (At 6,5; Lc 4,1), penetrando fundo dos corações e provocando forte comoção nos ouvintes.

3 Mas, como ele mesmo testemu­nhou mais tarde, aprendera por revelação de Deus que devia fazer esta saudação, dizendo: O Senhor te dê a paz (Nm 6,26; 2Ts 3,16), e assim, anunciando a paz, saudava o povo no começo do sermão.

4 Plenificado de repente pelo espírito dos profetas, anunciava a paz, pregava a salvação (Is 52,7) de acordo com a palavra profética.

5 E assim aconteceu que com salutares admoestações conseguiu unir em verdadeira paz a muitos que antes discordavam de Cristo e estavam longe da salvação.

17.

1 Conhecendo muitos a verdade da doutrina simples e da vida do bem-aventurado Francisco, alguns homens começaram logo a se animar a seguir a penitência a seu exemplo e, deixando tudo (Lc 5,11), uniram-se a ele na roupa e na vida.

2 E, quando os méritos do santo começaram a ser recompensados com novos filhos, ele começou a se encher de uma nova consolação do Espírito (At 9,31) e a cuidar mais diligentemente de sua salvação.

3 Então, consolando-os e os estimulando com paterno afeto, não deixava de formá-los com novas exortações, ensinando-os a andar sem desvios pelo caminho da santa pobreza e da verdadeira simplicidade.

4 Como sétimo, o pai gozava da feliz companhia de seis irmãos e se comportava em tudo como o menor entre os menores, e não como o maior. Ignorando ainda o que ia acontecer consigo e com os seus, desejava muito saber o futuro do pequeno rebanho (Lc 12,32).

18.

1 Um dia, como se dera à oração com mais devoção que de costume, dando graças (Mt 15,36) pelos benefícios dados pelo Senhor e recordando na amargura de sua alma (Is 38,15) os anos em que vivera mal, apresentou-se tremendo ao Senhor e começou a sentir que de vez em quando derramava-se em sua mente especial suavidade e alegria; tanto que até desmaiou.

2 Até que a escuridão concreta dos pecados foi toda afastada e teve a certeza da remissão de seu débito até o último centavo (Mt 5,26).

3 Então foi arrebatado e todo absorvido na claridade de uma luz admirável: com a mente amplificada, mereceu ser certificado sobre o que desejava e viu muito bem que seus filhos se multiplicariam de todas as nações (At 2,5).

4 Mas não foi só isso. Contemplando muitas outras coisas secretas do futuro, quando voltou a si contou tudo aos irmãos, em ordem (Est 15,9)

5 e, totalmente renovado no espírito (Sl 50, 12), aconselhou-os a não desesperar de sua simplicidade ou da deles, mas confortou-os no Senhor (Ef 6,10) que, de muitas formas, os haveria de multiplicar até os confins da terra.

19.

1 Nesse tempo, uniu-se (Gn 35,29) a eles um outro homem, e assim o número chegou a oito.

2 Então, chamando-os todos ao seu redor, o santo os agrupou dois a dois para enviá-los às diversas partes do mundo, falando-lhes com muita doçura e fervor do Reino de Deus (At 1,3), do desprezo do mundo e de si, admoestando-os, entre outras coisas, principalmente a paciência e a humildade.

3 Alegrou-se então o humilde rebanho com a voz do pastor e, para receber a ordem da salutar obediência observando-a com alegria, prostrou-se humildemente a seus pés.

4 Erguendo-os, o pastor boníssimo pastor abraçou-os afetuosamente como a mãe com seus filhos, acolheu cada um para beijá-lo,

5 confortando-os com a palavra profética: “Entrega ao Senhor os teus cuidados, e ele te sustentará” (Sl 54,23). Repetia isso com freqüência a todos que enviava.

6 Quis assim orientar toda solicitude dos irmãos para Deus, quis fechar-lhes o caminho errado e insaciável da cobiça, e assim não providenciou para que tivessem dinheiro em seus cintos para o dia de amanhã (Mc 6,8), com o coração todo livre de cuidados.

20.

1 Portanto, dividindo seis deles dois a dois para anunciar a paz e a penitência em diversas regiões; partiu ele também para outra parte do mundo, retendo um consigo.

2 Entretanto, não suportando o afeto paterno prolongar a ausência da nova prole, não muito depois começou a sentir um desejo veemente de revê-los.

3 Para obter o que desejava, procurou então o refúgio da costumeira oração; e assim mereceu ser ou­vido pelo Senhor; de forma que, em breve, improvisa e admira­velmente todos estavam reunidos na unidade (Jo 11,52).

4 Reunidos dessa maneira, não é de admirar que o pai se ale­grasse nos filhos.

5 Congratulavam-se também os filhos com o gozo do pai e também alegres glorificavam a magnificência do Salvador.

6 Ele lhes contou como o Senhor havia realizado o seu desejo (Sl 126,5); e eles também contavam os grandes benefícios divinamente recebidos e humildemente se acusavam de sua ingratidão.

7 Depois disso, aconteceu que ao pequeno rebanho (Lc 12,32) se uniram outros quatro homens idôneos, e assim o número dos irmãos chegou a doze.

8 A fama do santo homem e de seus companheiros difundiu-se ainda mais e, como se alegravam pela conversão dos pecadores sem acepção de pessoas (1Pd 1,17), aumentava cada dia também o seu gozo no Senhor.