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Como ensinou os frades a orar, o que deviam crer e observar; a obediência e a simplicidade dos irmãos e as consolações que eles tiveram através dele; sua transfiguração e seu espírito profético.

27.

1 Nesse tempo, rogado pelos irmãos que os ensinasse a orar, ele simplesmente lhes indicou esta forma: “Quando orardes dizei: Pai nosso” (Lc 11,2; Mt 6,9),

2 e “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendizemos, porque pela santa cruz remistes o mundo”.

3 Pondo isso em prática com humildade e consi­derando uma ordem a obedecer o que ele dissera com simplicidade, e, como lhes fora ensinado, incli­navam-se também para as igrejas que podiam ver ao longe e ado­ravam, prostrados por terra.

4 Além disso, não tendo então sacerdotes da Ordem, os frades se confessavam aos sacerdotes seculares, bons e maus, indiferentemente;

5 e não consideravam o pecado de algum deles, mas, a exemplo e ensinamento do santo pai, tinham para com todos com a maior reverência.

28.

1 Na sua pregação, este homem católico e todo apostólico admoestava, sobretudo, a conservar inviolável a fé da Igreja ro­mana e a maior reverência pela ordem sacerdotal, pela dignidade do Sacramento do Senhor, que é realizado pelo ministério dos sacerdotes.

2 E ensinava também que deviam ser profundamente reverenciados os doutores da lei divina e todas as ordens eclesiásticas. ­

3 E era tão grande a simplicidade dos frades que, quando um sacerdote que não tinha boa fama disse a um dos irmãos: “Trata de não seres hipócrita!”, o frade achou que era hipócrita com toda certeza, porque achava que um sacerdote não podia men­tir.

4 Como o frade ficou perturbado durante muito tempo por causa disso, acabou recebendo do santo, que desculpou sabiamente a intenção do sacerdote, a consolação de uma palavra ardente (Sl 118, 140), que afugentava freqüentemente todas as nuvens dos corações dos ir­mãos.

29.

1 Naquele tempo, a simplicidade dos frades era consolada por freqüentes revelações, que mereceram receber pela presença de tão grande pai.

2 De fato, em uma noite em que o bem-aventurado Francisco se ausentara dos irmãos, pela meia-noite, enquanto alguns frades descansavam e.outros rezavam, eis que um carro de fogo (2Rs 2,11) entrou pela portinha da casa e deu voltas para cá e para lá pela choupana.

3 Em cima dele havia um globo nada pequeno, parecido com o sol, e afugentou as trevas da noite com sua claridade.

4 Quando eles se reuniram todos e perguntaram com grande espanto que seria aquilo, aconteceu uma coisa digna de grande memória: em virtude da luz admirável desnudou-se a consciência de um para o outro.

5 Compreenderam que era a alma do pai santíssimo que, por sua especial pureza, mereceu mostrar-se transfigurada, para consolo de seus filhos.

6 De fato, este santo mereceu realmente ser chamado carro e condutor (2Rs 2,12; 13,14) da tríplice milícia de que se falou acima, porque, vivendo ainda na carne mortal, pôde mostrar-se transfigurado em forma de sol, levado no carro de fogo.

7 Quando o homem de Deus regressou corporalmente a seus irmãos, começou a perscrutar sutilmente os segredos de suas consciências; o que tinham experiência freqüente de que não lhe era escondido.

8 Como é admirável para os nossos tempos e cheio de espanto e alegria que um homem fraco julgue os segredos das outras mentes!

9 Pois este homem glorioso revelou para muitos as coisas ocultas do coração (1Cor 14,25) deles, conheceu também muitas vezes os atos de irmãos ausentes e, para alguns, em sonhos, proibiu fazerem isto ou aquilo e a outros mandou que fizessem uma ou outra coisa.

10 Também anunciou males condenáveis de alguns que tinham cara de bons e prenunciou futuros bens de graças dos maus.

11 Verdadeiramente repou­sou sobre ele o duplo espírito dos profetas (2Rs 2,9), que brilhou em tantos milagres realizados em vida, como em parte se mostrará, e prevendo tantas coisas futuras, de vamos apresentar umas poucas.

30.

1 Mais vezes ainda, o homem de Deus comunicou a seus irmãos consolações de alegrias espirituais, ausente de cor­po, mas presente com o espírito (1Cor 5,3).

2 Vou contar, rapidamente, um entre tantos. Uma vez, quando Frei João de Floren­ça celebrava o Capítulo na Provença, onde fora feito ministro pelo bem-aventurado Francisco, es­tava presente nesse mesmo capítulo o venerável Frei Antônio, que agora é san­to e glorioso confessor de Cristo.

3 Enquanto este santo, cheio do Espírito de sabedoria (At 6,3), expunha as palavras das divinas Páginas sobre o tema: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus (Jo 19,19) e afetuosamente propunha aos irmãos reunidos uma palavra de exortação, um certo irmão chamado Monaldo, sacerdote, homem simples e preclaro por suas muitas virtudes, virou o rosto para a porta da casa,

4 e viu com os olhos corporais como bem-aventurado Francisco, suspenso no ar e com as mãos estendidas em cruz, abençoar os irmãos que estavam presentes.

5 Foi imediatamente infundida em cada um e em todos um grande gozo de espírito, de modo que, quando esse sacerdote contava depois a sua visão, para admiração de todos sua experiência tornava-o digno de fé.

31.

1 Basta contar um caso entre muitos para mostrar como ele manifestava os segredos dos corações dos outros.

2 Certo ir­mão, chamado Ricério, nobre de família e de costumes, confiava tanto nos méritos do bem-aventurado Francisco, que acreditava que se alguém tivesse a benevolência do san­to mereceria certamente também a graça divina, e se alguém não a tivesse, também mereceria a ira de Deus.

3 E como desejava fortemente alcançar o beneficio da amizade com ele, temia muito (Gn 32,7) que o santo pudesse descobrir nele algum vício escondido, o que o afastaria mais de sua graça.

4 Por isso, estando esse frade já continua e gravemente aflito por esse temor, e sem revelar a nenhuma pessoa o que pensava, aconteceu que um dia, perturbado como de costume, foi à pequena cela em que o bem-aventurado Francisco orava.

5 O homem de Deus pressentiu tanto a sua chegada quanto o estado de ânimo e o chamou com bondade, dizendo: “Desde agora não tenhas medo, meu filho, nenhuma tentação te perturbe, porque és muito querido por mim e eu te amo com especial amor entre os mais queridos.

6 Quan­do quiseres, vem aqui e podes ir livremente quando quiseres”.

7 O frade ficou não pouco espantado e se alegrou com as palavras do santo pai. Depois disso, seguro de seu afeto, ele acreditou também, como antes, na graça do Salvador (Tt 2,11).