Actus Beati Francisci et sociorum eius - Capítulo 1

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1 Por isso, certa ocasião, quando estava voltando de Roma, quando esteve na casa do senhor Leão por alguns dias, no dia em que saiu de Roma, choveu o dia inteiro.

2 E como estava muito doente, ia a cavalo.

3 Mas para dizer as suas horas, desceu do cavalo, ficando em pé ao lado da estrada, apesar da chuva e de ter ficado todo molhado.

4 E disse: “Se o corpo quer comer em paz e com sossego, a sua comida, que acaba sendo pasto dos vermes, com quanta paz e sossego deveria a alma receber sua comida, que é o próprio Deus!”.

5 E dizia: “O diabo fica exultante quando consegue extinguir ou impedir a devoção e a alegria do coração do servo de Deus, que provém da oração limpa e das outras boas obras.

6 Pois se o diabo pode ter alguma coisa de seu no servo de Deus, se o servo de Deus não for sábio e se, o mais depressa que puder, não o apague ou destrua pela contrição, pela confissão e pela satisfação da obra, em pouco tempo faz de um cabelo uma trave, aumentando cada vez mais”.

7 E disse: “O servo de Deus deve satisfazer a fome, o sono e as outras necessidades de seu corpo com discrição, para que o irmão corpo não possa murmurar, dizendo:

8 “Eu não posso ficar em pé e insistir na oração, nem posso me alegrar em minhas tribulações e fazer outras obras boas, porque não me satisfazes”.

9 Também dizia que se o servo de Deus não satisfaz seu corpo com discrição, de um modo bastante bom e honesto, como puder,

10 e o irmão corpo, na oração, nas vigílias e em outras obras boas da alma quiser ser preguiçoso, negligente e sonolento, deve castigá-lo como um animal mau e preguiçoso, porque quer comer e não produzir nem carregar a carga.

11 Entretanto, se o irmão corpo não pode satisfazer suas necessidades na doença e na saúde por escassez e pobreza, quando pede o que precisa a seu irmão ou prelado, honesta e humildemente, por amor de Deus, e não lhe for dado, suporte pacientemente por amor do Senhor, o Senhor vai dar-lhe o mérito do martírio.

12 E como fez o que podia, isto é, pediu o que necessitava, fica livre de pecado, mesmo que o corpo fique mais doente por causa disso”.

13 Nisso o bem-aventurado Francisco sempre empenhou o maior e o principal esforço, embora seu corpo tenha sido muito afligido desde o princípio de sua conversão até o dia de sua morte, porque sempre foi solícito em ter e conservar, exterior e interiormente a alegria espiritual.

14 Até dizia que, se o servo de deus se esforçar sempre por ter e conservar a alegria interior e exteriormente, o que provém da limpeza do coração, os demônios não podem fazer-lhe nenhum mal, dizendo:

15 “Porque o servo de Deus mantém a alegria na tribulação e na prosperidade, não conseguimos achar nenhuma porta para entrar nele, nem para prejudicá-lo”.

16 Pois certa vez repreendeu um de seus companheiros porque lhe parecia que estava com tristeza e com a cara triste.

17 E lhe disse: “Por que tens tristeza e dor por tuas ofensas?

18 Guarda isso entre ti e deus e para a Ele para que por sua misericórdia te devolva a alegria de sua salvação;

19 e diante de mim e dos outros procura ter sempre alegria, porque não convém que um servo de Deus mostre diante de seu irmão ou de outro um rosto amargo e atribulado.

20 “Eu sei que os demônios me odeiam por causa dos benefícios que Deus me deu por sua misericórdia. Como não pode me fazer mal por mim, tentam e se esforçam por me prejudicar através de meus companheiros.

21 Mas se não conseguem a mim e a meus companheiros, retiram-se com uma grande confusão.

22 Se alguma vez eu me encontrasse tentado e abatido, se vir a alegria de meu companheiro, acho que por causa dessa alegria vou voltar da tentação e do aborrecimento para a alegria interior”.