Como São Francisco libertou Frei Ricério da maior tentação.
1 Frei Ricério, companheiro de Frei Peregrino na terra, e agora concidadão no céu, andando pela vida ativa enquanto viveu, e servindo a Deus e ao próximo com toda a fidelidade, tornou-se muito familiar e querido por São Francisco, 2 de modo que aprendeu muitas coisas com São Francisco e, ensinado por ele, compreendeu claramente a verdade no meio de muitas dúvidas e conheceu a verdade do Senhor nos negócios que devia fazer. E, segundo o vaticínio de santo pai, servia aos irmãos. 3 Foi feito ministro na Marca de Ancona e, por causa do zelo de Deus, que ardia sempre no seu coração, conduzia a província com a maior paz e discrição, seguindo o exemplo de Cristo, que quis fazer primeiro e ensinar depois.
4 Entretanto, depois de algum tempo, para lucro de sua alma, permitiu a divina dispensação uma tentação muito grave, para que fosse provado e purificado como o ouro escolhido (cfr. Br 3,30). Ansioso demais, e atribulado pela tentação, afligia-se em abstinências e disciplinas, lágrimas e orações. Mas não conseguia libertar-se da tentação. 5 Era levado de muitas maneiras para o maior desespero, pois, pela enormidade da tentação, achava que tinha sido abandonado por Deus. 6 Vendo-se no máximo da desolação e do desespero, refletiu no coração e disse: “Levantar-me-ei e irei ao meu pai (cfr. Lc 15,18)Francisco. Se ele demonstrar familiaridade para comigo, creio que Deus me será propício; se não, será um sinal de que fui abandonado por Deus”.
7 Tomou o caminho e ia para São Francisco. Mas São Francisco jazia gravemente doente, no palácio do bispo de Assis. Estava pensando no Senhor quando lhe foi revelado o tipo da tentação, como também a vinda e o propósito do referido frade. 8 Chamou na mesma hora os seus companheiros, Frei Masseu e Frei Leão, e disse: “Ide rapidamente ao encontro do meu filho Frei Ricério. Da minha parte, abraçai-o e saudai-o, dizendo-lhe que, entre todos os frades que há no mundo, tenho um afeto singular por ele”.
9 Eles, como verdadeiros filhos da obediência, saíram imediatamente ao encontro de Frei Ricério. Quando o encontraram fizeram o que São Francisco dissera, abraçando-o e dizendo as palavras amáveis do pai, encheram de tal modo a sua alma de consolações que ele quase se derreteu de gozo. 10 Mal daria para explicar em palavras quanta alegria demonstrou nessa ocasião, quanto pulou de júbilo e quantos louvores e graças rendia ao Senhor, porque fizera próspero o seu caminho (cfr. Sl 67,20). 11 Ó bom Jesus, que nunca abandonas os que em ti esperam (cfr. Sl 16,7), mas sempre dás proveito com a tentação, para que possamos suportá-la (cfr. 1Cor 10,13)!
12 Que mais? Chegou ao lugar onde jazia o angélico e diviníssimo varão Francisco. Mesmo estando gravemente doente, ele se levantou e foi ao seu encontro. Abraçando-o com muita doçura, disse-lhe: “Meu filho Frei Ricério, entre todos os frades que estão em todo o mundo, eu te amo”. 13 Fazendo-lhe um sinal da cruz e na testa e beijando-o no mesmo lugar com muito amor, disse: “Meu filho caríssimo, essa tentação te foi dada para teu maior proveito; mas, se não quiseres mais esse lucro, que não o tenhas!”. 14 Que maravilha! Desapareceu na mesma hora a tentação diabólica, como se nunca a tivesse sentido em sua vida; e ficou muito consolado em Deus.
Para o louvor de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.