Actus beati Francisci et sociorum eius - Capítulo 48

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Maravilhas sobre alguns irmãos da província das Marcas; e como a Bem-aventurada Virgem apareceu a Frei Conrado no bosque de Forano.

A - 1 A província da Marca de Ancona foi como um céu es­trelado com notáveis estrelas e ornado com santos frades me­nores que, acima e abaixo, reluziam diante de Deus e do próximo com radiantes virtudes; sua memória está verdadeiramente na bênção (cf. Sir 45,1) divina.

2 Entre eles, houve alguns como astros maiores, mais luminosos do que os demais, a saber, Frei Lúcido, o mais antigo, que brilhava verdadeiramente em santidade e ardia (cf. Jo 5,35) na caridade divina, cuja língua gloriosa, instruída pelo Espírito Santo, produzia admiráveis frutos.

3 Também Frei Bentivoglia de São Severino, que, quando rezava no bosque, foi visto elevado no ar a grande distância do chão, por Frei Masseu, da mesma terra, o qual por causa daquele milagre deixou a paróquia e se fez frade menor; e foi de vida tão santa que fez muitos milagres; e repousa em Murro. 4 Este Frei Bentivoglia, enquanto estava sozinho em Trave Bo­nanti e cuidava de um leproso, obrigado a partir pela obediência e não querendo abandonar o leproso, depois de tê-lo coloca­do nos ombros, com ele assim carregado, foi desse lugar de Trave até ao Monte de San Vicino, 5 onde havia ou­tro lugar, numa distância de quinze milhas, do iní­cio da aurora até ao nascer do sol; se ele fosse uma águia, talvez mal pudesse voar nesse caminho em tão pouco tempo e todo esse peso. Todos que ouviram falar deste milagre divi­no ficaram admiravelmente estupefatos.

6 Também Frei Pedro de Monticello, que, por Frei Servádio de Urbino, então seu guardião no antigo lugar de Ancona, foi visto elevado até aos pés do crucifixo, colo­cado no alto uns cinco ou seis côvados acima do pavimento da igreja.

B - 7 Este mesmo, quando jejuou com muita devoção a qua­resma de São Miguel Arcanjo e no último dia de jejum se dirigiu à igreja para rezar, foi ouvido por um frade menino que es­tava cuidadosamente escondido sob o altar: estava falando com o santís­simo Miguel Arcanjo e o arcanjo com ele. 8 E as palavras que diziam eram estas. Dizia o Arcanjo: “Frei Pedro, tu trabalhaste fielmente por mim e te afligiste de múltiplas formas; eis que vim para te con­solar, para que peças qualquer graça que quiseres; e eu a impe­trarei do Senhor para ti”.

9 Frei Pedro respondia: “Santíssimo príncipe da milícia celeste, fidelíssimo zelador da honra de Deus e protetor piíssimo das almas, peço-te esta graça: que impetres para mim a remissão de todos os pecados”.

10 Respondeu o santís­simo Miguel: “Pede outra graça, porque essa eu vou adquirir para ti com facilidade”. Mas Frei Pedro não pedia outra coisa. O Arcanjo con­cluiu: “E eu, por causa da fé e devoção que tens em mim, vou conseguir para ti a graça que pedes e muitas outras”. 11 Quando acabou o colóquio, que durou por muito tempo de noite, deixou-o intimamente consolado.

C - 12 Além disso, no tempo desse Frei Pedro, verda­deiramente santo, houve o mencionado Frei Conrado de Offida. Como eles viviam juntos em família no lugar de Forano, da custódia de Ancona, Frei Conrado foi ao bos­que para meditar as coisas de Deus, e Frei Pedro foi às escondidas atrás dele para ver o que aconteceria com ele. 13 E Frei Conrado começou a rogar à Bem-aventurada Virgem, com devotíssimas lágrimas, que impetrasse para ele de seu bendito Filho esta graça: que pudes­se sentir um pouquinho daquela doçura que São Simeão sentiu no dia da Purificação, quando tomou nos braços (cf. Lc 2,28) o Cristo Salvador bendito.

14 Ele foi atendido por aquela Senhora cheia de misericórdia: eis a Rainha da glória com seu Filho bendito e com tanta claridade de luz que não só afugentava as trevas, mas também superava todas as luzes. E, aproximando-se de Frei Con­rado, colocou-lhe nos braços aquele menino, o mais belo dos fi­lhos dos homens (cf. Sl 44,3).

15 Frei Conrado, tomou-o mui de­votamente, beijou-o nos lábios e apertando-o no peito, derretia-se todo em abraços e ósculos de caridade. E Frei Pedro via tudo isto em clara luz e, além disso, sentia uma admirável consolação. 16 Ele ficou escondido no bos­que. Quando a Bem-aventurada Virgem Maria foi embora com o Fi­lho, Frei Pedro voltou depressa para casa. Quando Frei Conrado vinha voltando todo festivo e alegre, foi chamado por Frei Pe­dro: “Homem do céu, tiveste hoje muita consolação!” 17 Disse Frei Conrado: “Que estás dizendo, Frei Pedro? Que sabes tu que eu tive?” Respondeu Frei Pedro: “Bem sei, homem do céu, bem sei como a Virgem beatíssima e seu bendito Filho te visitaram”.

18 Ouvindo isto, Frei Conrado, que, como um humilde de verdade, preferia o segredo, pediu que não o dissesse a ninguém. Era tão grande o amor entre esses dois que pareciam quase um só coração e uma só alma (cf. At 4,32).

D - 19 Esse mesmo Frei Conrado, orando no lugar de Sirolo, libertou uma possessa do demônio; e imediatamente fugiu do lugar para que a mãe da menina libertada não o encontras­se, nem houvesse afluência do povo, 20 pois Frei Conrado re­zara durante toda aquela noite,e aparecera à mãe da predita menina e, em aparecendo, libertara a filha.

Para o louvor e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.