Actus beati Francisci et sociorum eius - Capítulo 4

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Sobre Frei Bernardo, como foi para Bolonha.

1 Como nosso bem-aventurado pai Francisco, tanto ele como os seus, fora chamado por Deus de cruz em cruz, ele e seus outros bem-aventurados primeiros companheiros com razão eram vistos e de fato eram homens do Crucificado. 2 Carregando a cruz no vestir, no comer e em todos os seus atos, desejando mais os opróbrios de Cristo do que as lisonjas do mundo, vãs e enganadoras. Por isso, alegravam-se com as injúrias e ficavam tristes com as honras. 3 Iam pelo mundo como peregrinos e forasteiros (cfr. 1Pd 2,11), sem levar nada consigo a não ser o Cristo e, por isso, onde quer que fossem conseguiam os maiores frutos das almas porque eram de verdade ramos vivos da videira.

4 Por isso, aconteceu uma vez, no começo da Ordem, que São Francisco mandou Frei Bernardo a Bolonha para que aí desse frutos para Deus de acordo com a graça que Deus lhe dera. Frei Bernardo, munido da cruz de Cristo e tendo como companheira a virtude da obediência, foi para Bolonha.

5 Quando o viram com aquele hábito estranho e desprezível, as crianças começaram fazer-lhe muitas injúrias. Frei Bernardo, verdadeiramente santo, suportava as injúrias não só com paciência mas até com a maior alegria. 6 Pois, como era discípulo verdadeiro de Cristo, que se fez abjeção da plebe e opróbrio dos homens (cfr. Ps 21,7), postou-se de propósito na praça da cidade, onde poderia ser mais insultado pelas pessoas. 7 Então, quando lá estava sentado, juntaram-se muitos meninos e também homens ao redor dele. Uns puxavam seu capuz para trás, outros para frente; uns jogavam nele poeira e outros pedras; e além disso, alguns o empurravam pesadamente para cá e para lá.

8 Entretanto, diante de todos os opróbrios, Frei Bernardo permanecia alegre e paciente, sem resistir ou murmurar por nada, absolutamente. Até, o que é maior, para suportar tais opróbrios voltou de propósito por muitos dias àquela praça. 9 E, por mais injúrias que lhe fizessem, mostrava sempre um ânimo imperturbável num rosto alegre. 10 E como a paciência realiza e confirma uma obra perfeita, um sábio juiz, observando e examinando com diligência uma constância tão virtuosa, que em tantos dias de modo algum se perturbara, disse em seu coração: 11 “É impossível que ele não seja um santo homem”. E, chegando perto de Frei Bernardo, disse-lhe: “Quem és tu e por que vieste aqui?”.

12 Frei Bernardo pôs a mão no bolso e apresentou a regra evangélica de São Francisco, que levava no coração e demonstrava por obras. 13 O juiz, depois de ler o altíssimo estado de toda aquela regra, ficou vivamente admirado, porque era um homem inteligente. 14 Voltando-se para os companheiros, disse com a maior admiração: “Esse é o mais alto estado de que ouvi falar. Por isso, este homem, com os seus companheiros, é dos mais santos deste mundo. 15 Por isso cometem um grande pecado os que o injuriam, pois tem que ser exaltado com as maiores honras e não com injúrias, pois é um verdadeiro amigo do Altíssimo”.

16 E disse a ele: “Caríssimo, se alguém vos mostrasse um lugar apropriado para vós servirdes a Deus, e quisésseis aceitá-lo, eu o daria com a maior boa vontade pela salvação de minha alma”. 17 Frei Bernardo respondeu: “Caríssimo senhor, creio que isso vos foi inspirado por Deus; por isso aceito de boa vontade a vossa oferta para a honra de Cristo”.

18 Então o juiz levou Frei Bernardo para sua casa, recebeu-o com alegria e grande caridade. Depois lhe mostrou o lugar prometido e o guarneceu todo por sua conta, com perfeição e devoção. 19 E se fez defensor e o pai mais importante para Frei Bernardo e seus companheiros. Por causa de sua convivência, começou a ser honrado pelas pessoas, tanto que se julgavam felizes os que podiam tocá-lo e vê-lo.

20 Mas Frei Bernardo, como um discípulo verdadeiro e humilde de Cristo, temendo que a honra que aí lhe prestavam impedissem a calma e a salvação de sua alma, foi embora e, voltando a São Francisco, disse: 21 “Foi assumido o lugar na cidade de Bolonha. Por isso, pai, manda frades que morem lá, porque eu aí já não tenho proveito. Aliás, por causa da grande honra que eles me prestam lá, temo mais perder do que ganhar”. 22 O bem-aventurado Francisco, ouvindo direitinho tudo que o Senhor tinha feito através de Frei Bernardo, alegrando-se e exultando em espírito, começou a louvar o Altíssimo, que assim difundia os discípulos pobrezinhos da cruz para a salvação do povo. 23 Depois disso, tomando alguns dos companheiros, mandou-os para a Lombardia e, como cresceu a devoção dos fiéis, assumiram lugares por toda parte.

Para louvor de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos. Amém.