Actus beati Francisci et sociorum eius - Capítulo 32

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Da graça da contemplação do santo Frei Bernardo.

1 Como era grande a graça que o Pai Altíssimo concedia aos pobres evangélicos, que tinham deixado tudo voluntariamente por Cristo, ficou demonstrado no predito Frei Bernardo, que, depois que tomou o hábito do santo pai, tinha a mente arrebatada para Deus com muita freqüência.

2 Por isso, houve uma ocasião em que aconteceu de ele estar na igreja para assistir a missa e com a mente toda suspensa em Deus que foi tão arrebatado pelas coisas divinas 3 que nem percebeu quando o corpo de Cristo foi elevado e, quando os outros se ajoelharam, nem se ajoelhou nem tirou o capuz, mas permaneceu nas luzes que não são refletidas, ficando assim desde a manhã até depois da Noa.

4 Depois da Noa, quando voltou a si, vinha clamando cheio de admiração: “Irmãos, irmãos, irmãos! não há ninguém nesta região tão grande e nobre que, se lhe fosse prometido um palácio cheio de ouro que não achasse fácil carregar um saco do mais vil esterco para merecer tão nobre tesouro!” 5 Mas Frei Bernardo foi elevado a esse tesouro celeste, reservado por Deus aos que o amam, de modo que, por quinze anos, andava sempre voltado para o céu com a mente e com o rosto.

6 E por causa dessa enorme elevação do pensamento para as luzes supercelestes, e desse enorme arrebatamento nos carismas divinos, nesse quinze anos nunca saciou na mesa a sua fome corporal. 7 Mas comia um pouquinho de tudo que lhe serviam e dizia que não se diz que uma pessoa se abstém do que não gosta, porque a verdadeira abstinência ela lutar com o que tem sabor.

8 Chegara a tanta limpidez de inteligência que até os grandes clérigos recorriam a ele; e deslindava as trevas das questões em qualquer passagem da Bíblia que se que buscasse. 9 Porque até a mente dele estava completamente solta das coisas terrenas como uma andorinha voando nas alturas. E, algumas vezes por vinte dias, outras por trinta dias, voava sozinho pelos cumes das montanhas, contemplando apenas as coisas do céu. 10 Por isso, o santo Frei Egídio dizia que não tinha sido a dado a todos esse dom dado a Frei Bernardo de Quintavale, de poder alimentar-se em vôo, como uma andorinha.

11 E, por causa dessa tão excelente graça que lhe fora dada, São Francisco gostava de conversar com ele dias e noites, e por isso algumas vezes os dois foram vistos arrebatados juntos no Senhor, no bosque em que tinham se reunido para falar do Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos. Amém.