O frade que viu a alma de seu irmão de sangue ser levada pelos anjos
1 Depois da morte de nosso bem-aventurado pai Francisco, houve dois irmãos de sangue na Ordem, Frei Húmilis e Frei Pacífico, que foram de admirável santidade e perfeição; um deles morreu em Soffiano, e o outro, que estava num eremitério distante, enquanto se dedicava à oração em lugar solitário e deserto quando pousou sobre ele a mão do Senhor e, arrebatado em êxtase, viu a alma de seu irmão subir ao céu sem nenhuma demora.
2 E, passados muitos anos, o irmão que vivia se tornou um da família de Soffiano, onde outrora o seu irmão fora sepultado. E então, os irmãos, a pedido dos senhores de Brunforte, mudaram o referido lugar de Soffiano para outra região, de modo que transladaram para lá as relíquias dos santos frades; 3 quando chegaram à sepultura do irmão do dito frade, ele tomou dentre elas os ossos de seu irmão e lavou-os com ótimo vinho e colocou-os em uma toalha branca; e não cessava de beijá-los com muita devoção e lágrimas.
4 E os irmãos admiravam-se disso e até estranhavam, porque, como era um frade de grande santidade, parecia chorar com afeto sensível e de maneira mundana; e alegavam, além disso, que os ossos dos outros frades não eram menos dignos de honra do que aqueles. 5 Ele, dando-lhes satisfação humildemente, disse: “Meus caríssimos irmãos, não vos admireis se fiz aos ossos de meu irmão o que não fiz aos outros; e bendito Deus! porque não foi a carnalidade que me levou, como julgais; mas fiz isto porque, quando meu irmão migrou deste mundo para o Senhor, enquanto eu rezava num lugar deserto e distante dele, vi a sua alma subir diretamente para o céu, de modo que esses ossos são santos e devem estar no paraíso de Deus; e por isso faço o que estais vendo”.
6 E os frades, vendo sua devota intenção, ficaram muito edificados e louvaram a Deus que opera tão grandes e admiráveis coisas em seus santos.
Para o louvor e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.